sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Tropicalismo


O Tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais.


Os tropicalistas deram um histórico passo à frente no meio musical brasileiro. A música brasileira pós-Bossa Nova e a definição da “qualidade musical” no País estavam cada vez mais dominadas pelas posições tradicionais ou nacionalistas de movimentos ligados à esquerda. Contra essas tendências, o grupo baiano e seus colaboradores procuram universalizar a linguagem da MPB, incorporando elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica.


O Tropicalismo propunha:



  • Atualização da linguagem musical brasileira em relação ao que se vinha fazendo, especialmente na Europa (Beatles) e Estados Unidos (filosofia hippie)

  • Crítica aos valores éticos, morais e estéticos da cultura brasileira

  • Rejeição à tendência lírica da MPB através de uma linguagem mais realista e atual

  • descompromisso total com os estilos, com os modismos, com as coisas feitas e esgotadas

  • adoção de uma visão latino-americana inserida na realidade cotidiana.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Modernismo - música

Relacionando o modernismo a Música, encontramos o Samba enredo 2004 da Escola de Samba Nenê de Villa Matilde, que trata exatamente o que ocorre no período da época modernista

Enredo: "A Águia Voa para o Futuro, Que Legal, É a Bienal no Carnaval São Paulo 450 Anos"

Raiou o dia
A Vila vem cantar a Bienal
É poesia

Nenê é arte
Do mais puro carnaval
São Paulo me leva
Hoje eu vou festejar contigo
Nesse palco definitivo
Quando o mecenas sonhador
Criou um pólo cultural
E a visão do modernismo reluziu
A arte projetou nosso Brasil
Olhando o futuro
Novos tempos, transformação

Era a cidade
Num momento de ebulição

Depois que a Guerra eclodiu
A nova ordem surgiu
Ganhavam o mundo conceitos da América
As instituições, a arte em comunhão
A verdadeira expressão
Na plenitude se viu
Diversos artistas de varias tendências
A riqueza da miscigenação

A bateria tocou
Bem forte no coração
Comunidade é força, raça e pé no chão
Minha cidade a sorrir
Ao ver meu samba passar
E pois a arte no contexto popular.

Modernismo (1922-1960)


O Modernismo Brasileiro é um movimento de amplo espectro cultural, desencadeado tardiamente nos anos 20, nele convergindo elementos das vanguardas acontecidas na Europa antes da Primeira Guerra Mundial -Cubismo e Futurismo - assimiladas antropofagicamente em fragmentos justapostos e misturados.
Iniciou-se no Brasil com a SAM de 1922. Mas nem todos os participantes da Semana eram modernistas: o pré-modernista Graça Aranha foi um dos oradores. Apesar de não ter sido dominante no começo, como atestam as vaias da platéia da época, este estilo, com o tempo, suplantou os anteriores. Era marcado por uma liberdade de estilo e aproximação da linguagem com a linguagem falada; os de primeira fase eram especialmente radicais quanto a isto.
Primeira fase Modernista no Brasil (1922-1930)
É a fase mais radical justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Caráter anárquico e forte sentido destruidor.
Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.
Características
· Busca do moderno, original e polêmico
· Nacionalismo em suas múltiplas facetas
· Volta às origens e valorização do índio verdadeiramente brasileiro
· “Língua brasileira” - falada pelo povo nas ruas
· Paródias - tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras
A postura nacionalista apresenta-se em duas vertentes:
· nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade, identificado politicamente com as esquerdas.
· nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes de extrema direita.
Manifestos e Revistas
Revista Klaxon — Mensário de Arte Moderna (1922-1923)
Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924-1925)
A Revista (1925-1926)
Verde-Amarelismo (1926-1929)
Manifesto Regionalista de 1926
Revista Antropofagia (1928-1929)
Segunda fase Modernista no Brasil - (1930-1945)
Um período rico na produção poética e também na prosa. O universo temático se amplia e os artistas passam a preocupar-se mais com o destino dos homens, o estar-no-mundo.
Características
· Repensar a historia nacional com humor e ironia
· Verso livre e poesia sintética
· Nova postura temática - questionar mais a realidade e a si mesmo enquanto indivíduo
· Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta
· Literatura mais construtiva e mais politizada.
· Aprofundamento das relações do eu com o mundo

Autores Principais
Poesia
Carlos Drummond de Andrade
Murilo Mendes
Jorge de Lima
Cecília Meireles
Vinícius de Moraes
Prosa
Romances caracterizados pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira, atingindo elevado grau de tensão nas relações do eu com o mundo. Uma das principais características do romance brasileiro é o encontro do escritor com seu povo. Há uma busca do homem brasileiro nas diversas regiões, por isso o regionalismo ganha importância, com destaque às relações do personagem com o meio natural e social.
Rachel de Queiroz
José Lins do Rego
Graciliano Ramos
Jorge Amado
Érico Veríssimo
Terceira fase Modernista no Brasil (1945- 1960)
A literatura brasileira, assim como o cenário sócio-político, passa por transformações.
A prosa tanto no romance quanto nos contos busca uma literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva. Na poesia, surge uma geração de poetas que se opõem às conquistas e inovações dos modernistas de 22.
Referências históricas
1945 = fim da 2ª Guerra Mundial, início da Era Atômica (Hiroxima e Nagasaki), ONU, Declaração dos Direitos do Homem, Guerra Fria. No Brasil, fim da ditadura Vargas, redemocratização brasileira, retomada de perseguições políticas, ilegalidades e exílios.
Autores Principais
Guimarães Rosa
Clarice Lispector
João Cabral de Melo Neto

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Clara Nunes-Sagarana

Relacionando o livro a música.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

SAGARANA - Guimarães Rosa




"Lá em cima daquela serra,
passa boi, passa boiada,
passa gente ruim e boa,
passa a minha namorada".







SAGA: "canto heróico" , RANA: "à maneira de"
As estórias desembocam sempre numa alegoria, e o desenrolar dos fatos prende-se a um sentido ou "moral", à maneira das fábulas. As epígrafes, que encabeçam cada conto, condensam sugestivamente a narrativa e são tomadas da tradição mineira, dos provérbios e cantigas do sertão.

Minas Gerais,
Sertão,
Bois,
Vaqueiros e jagunços,
Bem e Mal.





Sagarana compõe-se de nove contos:

1- O Burrinho Pedrês: " O Burrinho-gente"

Sete-de-Ouros, burro velho e desacreditado, personifica a cautela, a prudência e a muito mineira noção de que não vale a pena lutar contra a correnteza, se o que se pretende é a travessia.
"Macho" é mulo, mu, muar - o burrinho Sete-de-Ouros, protagonista da história. "Carregado de algodão" simboliza o peso da vida, o trabalho do burrinho, e metaforiza a carga dos homens, o peso do mundo, como fardos de algodão. "Preguntei: p'ra donde ia?" - a forma arcaica do verbo perguntar sugere a indagação permanente dos homens, sábios e filósofos: para quê?, por quê?, de onde?, para onde?. "P'ra rodar o mutirão" alude ao esforço coletivo, ao dever de solidariedade que o burrinho cumprirá na sua hora e na sua vez.

2- A Volta do Marido Pródigo:

A narrativa aproxima-se das novelas picarescas e é um retrato bem-humorado das oscilações interesseiras das convicções políticas do interior.
Lalino, um mulato muito vivo, ajudante numa construção de estrada, não gosta do trabalho. Abandona sua mulher e o meio rural para procurar na capital a felicidade com que sonha: bonitas mulheres à vontade, iguais às que vira em revistas. Depois de algum tempo, cansa-se e fica com saudades: volta. Mas sua mulher, Maria Rita, agora vive com outro. Lalino quer ganhar de volta a consideração do povo e a mulher. Oferece-se uma oportunidade: cooperar como cabo eleitoral do Major, com vistas a ganhar as eleições próximas. Graças a uma série de artimanhas que, no primeiro momento, parecem ser desastrosas para a política do Major, mas que na verdade são intrigas muito hábeis contra o adversário político, Lalino garante o sucesso eleitoral do patrão. Reconcilia-se com a mulher, Maria Rita, que nunca o deixara de amar.

___...___

"Tratado de Bovinologia" =


Os animais são de presença obrigatória em Sagarana, são animais humanizados que alegorizam a própria condição humana.



___...___

3- Sarapalha:

Primo Ribeiro e primo Argemiro, ambos estão com malária, são os únicos habitantes do vau de Sarapalha, lugar dizimado pela epidemia e abandonado pelos demais moradores. Sujeitos a periódicos ataques de febre, cada vez mais sérios, esperam a morte. Saudosamente, evocam a lembrança da bela Luísa, mulher de primo Ribeiro que, ao manifestar-se a malária, tinha-o abandonado por causa de outro. Argemiro, que deseja morrer de consciência tranqüila, confessa ao primo que a sua mudança para a casa de Ribeiro foi motivada pela atração que sentia por Luísa. Ribeiro reage amargamente e se mostra implacável: manda Argemiro embora na hora em que começa a agonia.

A seguinte epígrafe, como em todos os contos de Sagarana, condensa o significado do texto em questão: "Coitado de quem namora!". Argemiro, maleitoso e agonizante, é expulso por ter se apaixonado pela mulher de seu primo. A linguagem do conto acompanha o clima de desgraça e doença, os momentos de tremedeira e desvario dos dois maleitosos, compondo um quadro profundo e sensível da psicologia dos vencidos pela desolação, dos efeitos morais e sociais da maleita.

4- O Duelo:

O capiau Turíbio Todo testemunha a traição de sua mulher com o ex-militar Cassiano Gomes, e faz planos de vingança. Todavia, a bala destinada a matar Cassiano (de costas) não acerta o adúltero, mas sim seu irmão, inocente. Cassiano põe-se a perseguir Turíbio para vingar o assassínio do irmão. Turíbio refugia-se no sertão, acossado por Cassiano. Durante meses trava-se uma luta aferrada, em que cada um é ao mesmo tempo perseguidor e perseguido. Algumas vezes os duelistas se desencontram por um fio. Cassiano cai gravemente doente, mas antes de morrer, ajuda com generosidade um capiau que vive na miséria, chamado Vinte-e-Um. Turíbio, ao saber da morte do adversário, fica contente e põe-se a caminho de volta para sua mulher. Vinte-e-Um, porém, o identifica e mata, cumprindo assim a vingança que prometera a Cassiano.
O conto pode ser lido como uma alegoria da fatalidade, de inexorabilidade do destino humano. Enquanto os homens se perdem na busca de seus objetivos, de um fim, algo superior dispõe o contrário, o imprevisto.


5- Minha Gente:

O narrador-personagem, um moço, está de visita na fazenda do tio, empenhado em ganhar as eleições locais. O moço se apaixona por Maria Irma, sua prima, e lhe faz uma declaração, a qual ela não corresponde. Um dia, ela recebe a visita de Ramiro, noivo de outra moça, segundo ela diz, e o moço fica com ciúmes. Para atrair o amor de Maria Irma, ele finge namorar uma moça da fazenda vizinha. Porém, o plano falha - tendo como efeito secundário, não calculado, a vitória do tio nas eleições - e o moço deixa a fazenda. Na visita seguinte, Maria Irma apresenta-lhe Armanda. É amor à primeira vista; ele se casa com a moça, e Maria Irma, por sua vez, se casa com Ramiro Gouveia, "dos Gouveias de Brejaúba, no Todo-Fim-É-Bom".

Como numa novela, há várias intrigas, episódios e personagens secundários. O conto serve de pretexto para a documentação dos costumes e dos infortúnios da vida da roça. Estrutura-se como uma espécie de paródia, meio sentimental e meio irônica, das estórias de amor com final feliz.

6- São Marcos:

Há duas histórias neste conto. Uma delas, bem menor, é inserida no meio da outra, que conta a desavença entre o narrador e um feiticeiro. Por ter ridicularizado o negro Mangalô. José, o protagonista, torna-se alvo de uma bruxaria. Mangalô constrói um boneco-miniatura do inimigo, e coloca uma venda em seus olhos, o que faz José ficar cego, perdendo-se no meio do mato. Para conseguir achar o caminho de volta, mesmo sem enxergar, ele reza a oração de São Marcos, sacrílega e perigosa.
-Em nome de São Marcos e de São Manços, e do Anjo Mau, seu e meu companheiro...-Ui! Aurísio Manquitola pulou para a beira da estrada, bem para longe de mim, se persignando, e gritou:-Pára, creio-em-Deus-padre" Isso é reza brava...
Com o poder dado pela oração, mesmo cego José encontra a casa de Mangalô, ataca o negro e o obriga a desfazer a feitiçaria.
A outra história, dentro desta, constitui um pequeno episódio no qual José fala de um bambual onde ele e um desconhecido travam um duelo poético; o desconhecido fazendo quadrinhas populares, e ele colocando poemas como nomes de reis babilônicos.

Conta-se, portanto, a história da revelação de um destino que se revela por um conhecimento estético superior do universo, manifesto na imersão sensual/sensorial mágica da natureza. A cegueira de Izé é o pretexto para que o autor faça aflorar outros sentidos, outras potencialidades do ser, que são, a seu modo, a "hora e vez" do narrador, a sua "travessia" no mundo do mistério e do encantamento.

7- Corpo Fechado:

O narrador, médico em Laginha, vilarejo do interior, é convidado por Manuel Fulô para ser padrinho de casamento. Manuel detesta qualquer tipo de trabalho e, enquanto bebem cerveja, divertem-se, ele contando e o doutor ouvindo as histórias e os casos: do rato que tinha em casa enjaulado e que estava, por artimanha sua, criando amizade a um gato rajado; dos valentões do lugar - José Boi, Desidério, Miligido, Dêjo (Adejalma) e Targino, o mais recente, e que teve a insolência de reunir seu bando e comer carne com cachaça em frente da igreja, numa sexta-feira da Paixão; dos ciganos que ele, Manuel Fulô, teria trapaceado na venda de cavalos; de sua rivalidade com Antonico das Pedras-Águas, o feiticeiro. Manuel possui uma mula, Beija-Fulô, e Antonico é dono de uma bela sela mexicana; cada um dos dois gostaria de adquirir o bem do outro.
Aparece então Targino, o valentão do lugar, e anuncia, cinicamente, que vai passar a noite, antes do casamento, com a noiva de Manuel Fulô. Ele fica desesperado; ninguém pode ajudá-lo, pois Targino domina o lugarejo. Aparece então o feiticeiro Antonico e propõe um trato a Manuel Fulô: vai "fechar-lhe o corpo", mas exige em pagamento a mula Beija-Fulô, maior orgulho e paixão de Manuel. O trato é aceito.
De corpo fechado, Manuel Fulô enfrenta o bandido Targino e, para espanto de todos, mata-o com uma faquinha do tamanho de um canivete. O casamento com a das Dor realiza-se sem problemas e de vez em quando consegue emprestada sua antiga mulinha Beija-Fulô, para ostentar, à cavaleiro, sua nova condição de valentão de Laginha.


8- Conversa de Bois:

Os personagens desta história são: o carreiro Agenor Soronho, o menino-guia Tiãozinho, o defunto seu pai e os oito bois do carro.
O carreiro é o bandido: amante da mãe do guia, maltrata o menino, órfão de pai. Os maltratos de Agenor ao menino vão num crescendo, até que os bois intervêm: começam a conversar entre si, contam histórias, comentam a vida e, enfim, percebem a maldade de Agenor e o sofrimento do menino. No final, os bois, humanizados, unem-se psiquicamente ao menino. Ele, então, consegue superar sua fraqueza com a força dos bois. Aproveitando que Agenor havia dormido perto da roda do carro, os bois e o menino dão um arranco forte e matam o carreiro, cuja cabeça é quase cortada.
Retomando, sob outro prisma, o conto inicial "O Burrinho Pedrês", este "Conversa de Bois" é uma alegoria sobre a justiça dos animais e a crueldade dos homens.

9- A Hora e a Vez de Augusto Matraga:

Augusto Esteves, filho do Coronel Afonsão Esteves, das Pindaíbas e do Saco-da-Embira, conhecido como Nhô Augusto e também como Augusto Matraga, é o maior valentão do lugar, briga com todo mundo e maltrata por pura perversidade. Debochado, tira as mulheres e namoradas dos outros. Não se preocupa com sua mulher, Dona Dionóra, nem com sua filha, Mimita, nem com sua fazenda, que começa a se arruinar.
Já em descrédito econômico e político, sobrevém o castigo: sua mulher, Dionóra, foge com Ovídio Moura levando a filha, e seus bate-paus (capangas), mal pagos, põem-se a serviço do seu pior inimigo; o Major Consilva Quim Recadeiro foi quem levou a notícia da defecção dos capangas. Nhô Augusto resolve ter com eles, antes de matar Dionóra e Ovídio, mas no caminho é atacado, numa tocaia, por seus inimigos, que o espancam e o marcam com ferro de gado em brasa. Quase inconsciente, no momento em que vai ser assassinado, reúne as últimas forças e se atira no despenhadeiro do rancho do Barranco. Tomam-no por morto. É, contudo, encontrado por um casal de negros velhos: a mãe Quitéria e o pai Serapião que tratam de Nhô Augusto, que sara, mas fica com seqüelas deformantes.
Começa então uma nova vida, no povoado do Tombador, para onde levou os pretos, seus protetores. Regenera-se e, esperando obter o céu, leva uma vida de trabalho duro, penitência e reza. Arrependido de suas maldades, ajuda a todos, e reza com devoção: quer ir para o céu, "nem que seja a porrete", e sonha com um "Deus valentão".
Passados seis anos, tem notícias de sua ex-família através de Tião da Thereza: a esposa, Dona Dionóra, vive feliz com Ovídio, e vai casar-se com ele; Mimita, sua filha, foi enganada por um cometa (espécie de caixeiro viajante) e caiu na perdição. Matraga sente saudades, sofre, mas se resigna.
Certo dia, aparece o Joãozinho Bem-Bem, jagunço de larga fama, acompanhado de seus capangas: Flosino Capeta, Tim Tatu-tá-te-vendo, Zeferino, Juruminho e Epifânio. Matraga hospeda-os com grande dedicação e admira as armas e o bando de Joãozinho Bem-Bem. Mas se recusa a acompanhar o bando, mesmo convidado pelo chefe e não aceita qualquer ajuda dos jagunços. Quer mesmo ir para o céu.
Totalmente recuperado, Matraga despede-se dos velhinhos e parte, sem destino, num jumento. Chega ao Arraial ao Rala-Coco, onde reencontra Joãozinho Bem-Bem e seu bando, prestes a executar uma cruel vingança contra a família de um assassino que fugira. Augusto Matraga desperta para a sua hora e vez: intervém em nome da justiça, opõe-se ao chefe do bando, liqüida diversos capangas, tomado de verdadeiro furor. Bate-se em duelo singular com Joãozinho Bem-Bem. Ambos morrem - Joãozinho primeiro. Nessa hora, Augusto Matraga é identificado por seu antigos conhecidos.

Narrado em terceira pessoa, o conto enfatiza duas constantes da vida do sertão: a violência e o misticismo, na interminável luta do bem e do mal.



GUIMARÃES ROSA






"Como escritor, não posso seguir a receita de Hollywood, segundo a qual é preciso sempre orientar-se pelo limite mais baixo do entendimento. Portanto, torno a repetir: não do ponto de vista filológico e sim do metafísico, no sertão fala-se a língua de Goethe, Dostoievski e Flaubert, porque o sertão é o terreno da eternidade, da solidão (...). No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou um tu; por ali os anjos e o diabo ainda manuseiam a língua".

terça-feira, 17 de junho de 2008

Memória de um sargento de milícias


"Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antonio de Almeida, foi lançado originalmente sob a forma de folhetim, em "A Pacotilha" - o suplemento literário do jornal "Correio Mercantil", do Rio de Janeiro, entre 27 de junho de 1852 e 31 de julho de 1853. Só nos dois anos seguintes se transformaria num livro, publicado em dois volumes. Divertido, o romance mostra a vida da "baixa sociedade" no Rio antigo.


Esse romance merece destaque e ocupa um lugar ímpar na história da literatura brasileira, na medida em que se distancia muito dos modelos românticos que prevaleciam na época de sua publicação: a visão de mundo que ele expressa não é marcada por traços idealizados e sentimentalistas. Ao contrário, o autor se vale de um estilo objetivo e realista, semelhantes ao das crônicas históricas e de costumes.


Isso pode ser visto desde as primeiras linhas do texto, onde o jovem Manuel Antônio, que tinha 21 anos ao escrevê-lo, faz questão de deixar claros a data ("Era no tempo do rei." - no caso, dom João 6o) e o local ("Uma das quatro esquinas que formam as Ruas do Ouvidor e da Quitanda [...]" - no centro do Rio de Janeiro) onde sua história vai se desenrolar.


Relacionando o livro a música encontramos:

O malandro- Chico Buarque

O malandro/Na dureza
Senta à mesa/Do café
Bebe um gole/De cachaça
Acha graça/E dá no pé

O garçom/No prejuízo
Sem sorriso/Sem freguês
De passagem/Pela caixa
Dá uma baixa/No português

O galego/Acha estranho
Que o seu ganho/Tá um horror
Pega o lápis/Soma os canos
Passa os danos/Pro distribuidor

Mas o frete/Vê que ao todo
Há engodo/Nos papéis
E pra cima/Do alambique
Dá um trambique/De cem mil réis

O usineiro/Nessa luta
Grita (ponte que partiu)
Não é idiota/Trunca a nota
Lesa o Banco/Do Brasil

Nosso banco/Tá cotado
No mercado/Exterior
Então taxa/A cachaça
A um preço/Assustador

Mas os ianques/Com seus tanques
Têm bem mais o/Que fazer
E proíbem/Os soldados
Aliados/De beber


A cachaça/Tá parada
Rejeitada/No barril
O alambique/Tem chilique
Contra o Banco/Do Brasil

O usineiro/Faz barulho
Com orgulho/De produtor
Mas a sua/Raiva cega
Descarrega/No carregador

Este chega/Pro galego
Nega arreglo/Cobra mais
A cachaça/Tá de graça
Mas o frete/Como é que faz?

O galego/Tá apertado
Pro seu lado/Não tá bom
Então deixa/Congelada
A mesada/Do garçon

O garçon vê/Um malandro
Sai gritando/Pega ladrão
E o malandro/Autuado
É julgado e condenado culpado
Pela situação

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A cidade e as serras


Na primeira parte da narrativa, Zé Fernandes justifica sua aproximação de Jacinto (o “Príncipe da Grã-Ventura”), ligando-se a ele por amizade fraternal em Paris. Jacinto nascera e sempre morara em um palácio número 202. A mudança de sua família de Tormes, Portugal , para Paris deveu-se a seu avô Jacinto Galião. Seu neto, ao contrário do pai, que morrera tuberculoso foi sempre fisicamente forte e, além de rico, era inteligente, voltando toda sua atividade para o conhecimento. Mas detestava o campo e amontoara em seu palácio, em livros, toda a conquista das filosofias e ciências, além dos aparelhos tecnicamente mais sofisticados da época. E, para Jacinto, “o homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”.
Zé Fernandes era decididamente contrário a essa orientação tecnicista e mecanizada e vai registrando como Jacinto rompe totalmente com seu passado campesino, deteriorando-se na cidade. A regeneração só ocorrerá com uma atitude assumida por Jacinto, já na segunda parte da narrativa – nas serras.

Um dia Jacinto, enfastiado da vida urbana, participa a Zé Fernandes sua partida para Portugal, a pretexto de reconstruir sua casa em Tormes, deslocando para lá os confortos do palácio. Entretanto, o criado Grilo perde-se com as bagagens, que, por engano, foram remetidas para Alba de Tormes, Espanha. Assim o supercivilizado Jacinto chega a Tormes apenas com a roupa do corpo.

Em contacto estreito com a natureza, Jacinto renova-se, primeiro liricamente, numa atitude de encantamento, integrando-se depois na vida produtiva do campo, quando aplica seus conhecimentos técnicos científicos à situação concreta de Tormes.
Sem romper totalmente com os valores da “civilização”, Jacinto adapta o que pode ao campo. Modernizam-se dessa forma as serras, algumas reformas sociais são introduzidas e a produtividade aumenta. Ao príncipe da Grã-Ventura, só faltava um lar, o que ocorre em seguida, por meio de seu casamento com a prima de Zé Fernandes, Joaninha. Assim completamente feliz, no quotidiano das serras, Jacinto não mais volta a Paris, e esquece as companhias parisienses, como do grã-duque Casimiro, a condessa de Tréves, o conde de Tréves, o banqueiro judeu Efraim, madame Oriol e outros.

Relacionando o livro a música encontramos:
Somos quem podemos ser- Engenheiros do Hawaii

Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração
A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Um dia me disseram
Quem eram os donos da situação
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem esta prisão
E tudo ficou tão claro
O que era raro ficou comum
Como um dia depois do outro
Como um dia, um dia comum
A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem esta prisão
Quem ocupa o trono tem culpa
Quem oculta o crime também
Quem duvida da vida tem culpa
Quem evita a dúvida também tem
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Aproveitando a oportunidade, vamos mandar um beijo pra uma amiga nossa que gosta muito de Engenheiros
um beijao Ana!
amamos você.

sábado, 14 de junho de 2008

"E, um dia..."

Peço licença à minhas amigas para uma postagem individual, pois não poderia deixar de fazê-la; já que se trata de um poema... Não um poema qualquer encontrado nos livros... um poema novo.. que acabou de nascer, e me deu a luz!
Dedico essa postagem á nossa professora Geruza Zelnyz, autora do poema,
E a pessoa mais importante do mundo : O Rá! Te amo meu Rá! To morrendoooo de saudades!

Keka ;)





A bailarina e o jogador


Ah os pés! Os pés entrelaçados, dedo e dedo tão juntinhos, quase irmãos...
Mas um pé – um pé nasce para o que é e o outro é para o que nasce...
Então cada pé procurou o seu caminho, de grama ou de lama,
de chão lustroso e limpinho
E enquanto pés corriam, pés dançavam...
E atacavam, rodopiavam, em piruetas, em escanteios, em pontas, em faltas...
Em falta
Dribles de bailarina e piqués de jogador...
E, um dia...Um dia eles se encontraram e uniram suas coreografias na perfeita simetria do amor.
Querida, doces são as lágrimas de amor... mas tão afiadas...



Geruza Zelnyz

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Simbolismo


O Simbolismo é um estilo literário , do teatro e das artes plásticas que surgiu na França , no final do século XIX , como oposição ao Realismo e ao Naturalismo.


Principais Caractéristicas:
-Subjetivismo
-Musicalidade :
Na tentativa de sugerir infinitas sensações aos leitores, os simbolistas aproximam a poesia da música. Entendamos: não se trata de poesia com fundo musical, mas poesia com musicalidade em si mesma, através do manejo especial de ritmos da linguagem, esquisitas combinações de rimas, repetição intencional de certos fonemas, sujeição do sentido de um vocábulo a sua sonoridade, etc. Realiza-se assim a exigência de Verlaine: "A música antes de qualquer coisa."

A música é obrigatória, como nesta espécie de receita poética de Cruz e Sousa:


Derrama luz e cânticos e poemas
No verso e torna-o musical e doce
Como se o coração, nessas supremas
Estrofes, puro e diluído fosse.

Mesmo a morte, na obra do simbolista brasileiro, possui uma terrível musicalidade:

A música da Morte, a nebulosa,
Estranha, imensa música sombria,
Passa a tremer pela minh'alma e fria
Gela, fica a tremer, maravilhosa...
-Transcendentalismo .

Simbolismo no Brasil, dois grandes poetas destacaram-se dentro do movimento simbolista: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. No primeiro, a angústia de sua condição, reflete-se no comentário de Manuel Bandeira: "Não há (na literatura brasileira) gritos mais dilacerantes, suspiros mais profundos do que os seus".

domingo, 4 de maio de 2008

Momento descontração!

Larazentaaa de meinass! ehauehau...

Come what may - Moulin Rouge (Legendado)

Parnasianismo




Resultado de um período otimista que se reflete nas artes, como o cinema, e nos níveis sociais, com o o glamouroso Moulin Rouge. Paris torna-se a capital mundial da cultura e os boulevards, livrarias e teatros consolidam a imagem da prosperidade intelectual e cultural francesa. Esta "atmosfera" entende-se até meados da década de 40 e consagra um período de ebulição cultural, política e social na Europa.
Aspectos gerais:
O Parnasianismo durou no Brasil de 1880 a 1893. A influência do movimento, entretanto, estendeu-se até a primeira década do século XX.

As princiapais obras foram:


  • Sonetos e Rimas (poesias, 1880), de Luís Guimarães Júnior.

  • Fanfarras (poesias, 1882), de Teófilo Dias.

Origem:


O movimento parnasiano surgiu na França, com a publicação de uma séria de antologias denominada Parnaso Contemporâneo. Por meio delas, pregava-se um modo novo de fazer poemas: sem a emoção e o subjetivismo da época romântica. O nome Parnasianismo foi inspirado na mitologia grega. Parnaso era o monte consagrado a Apolo (o deus da beleza) e às musas (divindades inspiradoras da poesia). Tomando a cultura grega como modelo, os parnasianos retornavam à época clássica. Fugiam, assim, da influência romântica e adotavam uma linguagem menos brasileira, com gosto por termos rebuscados e eruditos. A poesia com gosto refinado, mostrando perfeição, agradou o público leitor brasileiro da época. Prova disso é a extensão da influência parnasiana: não desapareceu nem com as primeiras manifestações modernistas. 2.


Características do parnasianismo:



  • É a arte pelo simples prazer de fazer arte, sem a influência dos sentimentos, das emoções.

  • O poeta busca, a qualquer custo, a perfeição exterior dos poemas. Passam a ter valor os seguintes aspectos:

  • rimas ricas e raras;

  • vocabulário erudito, às vezes técnico- científico;

  • composição de soneto (2 quartetos e 2 tercetos);

  • clareza e lógica;

  • poesia descritiva

  • ausência de emoção.

sábado, 3 de maio de 2008

Ketaquiando um pouco mais! II

BONS AMIGOS
Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!
Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!
Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!
Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!
Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

Machado de Assis

OBS: ...

zelia duncan capitu

Dom Casmurro

Um enigma!
Assim se resume a obra de Machado de Assis.




Por isto mesmo, um clássico!

Machado de Assis



Nos livros:


Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de Junho de 1839 — Rio de Janeiro, 29 de Setembro de 1908), escritor carioca, brasileiro. Considerado o pai do realismo no Brasil, escreveu Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba e vários livros de contos, entre eles, Papéis Avulsos, no qual se encontra o conto O Alienista, no qual discute a loucura. Também escreveu poesia e foi um ativo crítico literário, além de ser um dos criadores da crônica no país. Foi o fundador da Academia Brasileira de Letras

O verdadeiro:



  • Não tive filhos não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.

  • A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.

  • Botas...as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar.

  • Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar.

  • Creia em si, mas não duvide sempre dos outros.

  • Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento.

  • Lágrimas não são argumentos.

  • Não é amigo aquele que alardeia a amizade: é traficante; a amizade sente-se, não se diz.

  • Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão.

  • O acaso... é um Deus e um diabo ao mesmo tempo.

  • O dinheiro não traz felicidade — para quem não sabe o que fazer com ele.

  • Suporta-se com paciência a cólica dos outros.

  • Está morto: podemos elogiá-lo à vontade.

  • Pensamentos valem e vivem pela observação exata ou nova, pela reflexão aguda ou profunda; não menos querem a originalidade, a simplicidade e a graça do dizer.

  • A melhor definição de amor não vale um beijo de moça namorada.

  • A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente.

  • A mentira é muita vez tão involuntária como a respiração.

  • A moral é uma, os pecados são diferentes.

  • Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.

  • Eu sinto a nostalgia da imoralidade.

  • Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.

  • Não te irrites se te pagarem mal um benefício; antes cair das nuvens que de um terceiro andar.

  • Há coisas que melhor se dizem calando.

  • Para as rosas, escreveu alguém, o jardineiro é eterno.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Realismo

Salvador Dali e sua fase cubista picassiana - pedaços de imbecilidade

Introdução
O realismo foi um movimento artístico e cultural que se desenvolveu na segunda metade do século XIX. A característica principal deste movimento foi a abordagem de temas sociais e um tratamento objetivo da realidade do ser humano.
Na literatura brasileira o realismo manifestou-se principalmente na prosa.Os romances realistas tornaram-se instrumentos de crítica ao comportamento burguês e às instituições sociais. Muitos escritores românticos começaram a entrar para a literatura realista. Os especialistas em literatura dizem que o marco inicial do movimento no Brasil é a publicação do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis.


As principais obras de Machado de Assis na fase realista foram:
- Memórias póstumas de Brás Cubas;
- Quincas Borba;
- Dom Camurro;
- Esaú e Jacó;
- Memorial de Aires;
- Papéis Avulsos;


Realismo na Música





Realismo Fantástico




Hiper-Realismo



sábado, 29 de março de 2008

A rosa do povo

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.


A flor e a náusea- Carlos Drummond de Andrade

A rosa do povo
Obra-chave dentro da produção de Drummond, A rosa do povo, publicada em 1945, reflete a maturidade que o poeta alcançou desde sua estréia. Nela, conforme já se afirmou, além de acentuado progresso técnico-formal, estão presentes duas conquistas decisivas para a evolução de nossa literatura: o realismo social, particularmente penetrante e que não se restringe, apenas ao lirismo da poesia engajada; a poesia poética, alimentada pela reflexão introspectiva sobre o sentido da escrita como obra de arte.


Este é o mais extenso e o mais variado dos livros de Drummond [ 55 poemas, alguns longos]. Nele desfilam os principais temas de sua obra; o verso livre e a estrofação irregular alternam com versos de métrica tradicional dispostos em estrofes regulares; o estilo ora é 'puro'[elevado, 'poético' ], ora é 'mesclado'[mistura de elevado e vulgar, sério e grotesco]. Livro difícil, é dos mais discutidos e apreciados da poesia moderna brasileira.
Obra de linguagem poética com participação social.

Os poemas de A rosa do povo foram escritos nos anos sombrios da ditadura de Vargas e da Segunda Guerra Mundial. Os acontecimentos provocam o poeta, que se aproxima da ideologia revolucionária anticapitalista de inspiração socialista, e manifesta sua revolta e sua esperança em poemas indignados e intenso.Temas: eu-estar no mundo [ o amor, a família, o tempo, a velhice], a poesia [poesia pela própria poesia], eu igual ao mundo,...

Portanto, em A rosa do povo, o poeta testemunha sua reação ante a dor coletiva e a miséria do mundo moderno, com seu mecanismo, seu materialismo, sua falta de humanidade. Essa fase enriqueceu sua essencialidade lírica e emocional, e, através da profunda consciência artística, o poeta atingiu a plenitude, a cristalização, a humanização, sob a forma suave e terna, em que o itabirano mergulha no lençol profundo de sua província e de seus antepassados, para melhor compreender a 'máquina do mundo', a angústia de seu tempo, o desarvoramento do homem contemporâneo, com um largo sentimento de fraternidade.


Nas músicas de Cazuza é notado aspectos de Carlos Drummond de Andrade.
Como exemplo temos Burguesia:


A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

A burguesia não tem charme nem é discreta
Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras

Pobre de mim que vim do seio da burguesia
Sou rico mas não sou mesquinho
Eu também cheiro mal
Eu também cheiro mal

A burguesia tá acabando com a Barra
Afunda barcos cheios de crianças
E dormem tranqüilos
E dormem tranqüilos

Os guardanapos estão sempre limpos
As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses
São caboclos querendo ser ingleses

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

A burguesia não repara na dor
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si

A burguesia é a direita, é a guerra
A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia

Não vai haver poesia
As pessoas vão ver que estão sendo roubadas
Vai haver uma revolução
Ao contrário da de 64O Brasil é medroso

Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Pra rua, pra rua

Vamos acabar com a burguesia
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia

Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo
A burguesia fede - fede, fede, fede

A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia
Porcos num chiqueiro

São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país

E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo

Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal
No sinal, no sinal

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

Nessa música se nota uso de reiterações, crise do indivíduo, principalmente da sociedade e um posicionamento crítico sobre ela.

sábado, 15 de março de 2008

Só o nosso TERCEIRÃO...




Romeo And Juliet What is a youth

Aiii...que música linda! ;D

Ahhh...o amor....



Nada melhor do que um ÓTIMO filme de final de semana com as amigas! Ainda mais com aquele tempinho de chuva, né?! E uma pipoquinha com muito shoyu!
O filme escolhido, não foi nada mais, nada menos, que Romeu e Julieta!Ahh...
Sem palavras!
Claro que o filme já era conhecido de todas, mas não tem como não quer vê-lo novamente, muito menos não gostar!
Como disse a Tha para essa MARAVILHOSA OBRA DE SHAKESPEARE: " - Que bonitinho!"
Heuaheuaheua...
CENA V
...
ROMEU — (a Julieta) – Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.
JULIETA — Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos pega o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente.
ROMEU — Os santos e os devotos não têm boca?
JULIETA — Sim, peregrino, só para orações.
ROMEU — Deixai, então, ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações.
JULIETA — Sem se mexer, o santo exalça o voto.
ROMEU — Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados. (Beija-a.)
JULIETA — Que passaram, assim, para meus lábios.
ROMEU — Pecados meus? Oh! Quero-os retornados. Devolve-mos.
JULIETA — Beijais tal qual os sábios.

...estamos conquistadas...!

segunda-feira, 10 de março de 2008

Tarsilíssima!

Exposição Tarsila Viajante

Tarsila do Amaral é uma das artistas que melhor representa a arte brasileira. Suas obras modernistas causaram polêmica nos anos 1920 e um de seus quadros, Abaporu, inspirou o Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, que comemora 80 anos. Com o passar do tempo, surgiram novas abordagens e reflexões sobre a obra da artista. Tarsila Viajante, mostra que visitamos dia 4 de janeiro na Pinacoteca do Estado, aborda a influência das viagens que a pintora realizou em seu trabalho. Estavam expostas 35 pinturas e 120 desenhos, incluindo Abaporu, A negra e Antropofagia.

Com toda a certeza, essa mostra nos inspirou e nos fortaleceu com mais sabedoria, que num futuro muito próximo irá nos recompensar nos vestibulares desse ano. Adoramos a viagem, e aconselhamos quem ainda não teve a oportunidade de ir, que vá correndo o mais rápido possível! Tarsila é simplismente fantástica!

sexta-feira, 7 de março de 2008

AULA 3


Romantismo
O Romantismo surgiu na Europa numa época em que o ambiente intelectual era de grande rebeldia. Na política, caíam os sistemas de governo despótico e surgia o liberalismo político (não confundir com o liberalismo económico do Século XX). No campo social imperava o inconformismo e no campo artístico o repúdio às regras. A Revolução Francesa é o climax desse século de oposição.
No Brasil, o romantismo coincidiu com a independência política em 1822 com o 2º Reinado, a guerra do Paraguai e a campanha abolucionista.Alguns autores neoclássicos já nutriam um sentimento mais tarde dito romântico antes de seu surgimento de fato, sendo assim chamados pré-românticos. Nesta classificação encaixam-se Francisco Goya e Bocage.
O Romantismo viria a se manifestar de formas bastante variadas nas diferentes artes e marcará sobretudo a literatura e a música (embora ele só venha a se manifestar realmente aqui mais tarde do que em outras artes). À medida que a escola foi sendo explorada foram surgindo críticos à sua demasiada idealização da realidade.
Destes críticos surgiu o movimento que daria forma ao Realismo.Neste sentido, as características centrais do romantismo viriam a ser o lirismo, o subjetivismo e o sonho de um lado e o exagero e a busca pelo exótico e pelo inóspito de outro. Também destacam-se o nacionalismo, a idealização do mundo e da mulher, assim como a fuga da realidade e o escapismo. Eventualmente também serão notados o pessimismo e um certo gosto pelo lúgubre.
Romantismo na música:
As primeiras evidências do romantismo na música aparecem com Beethoven. Suas sinfonias, a partir da terceira, revelam uma música com temática profundamente pessoal e interiorizada, assim como algumas de suas sonatas para piano também, entre as quais é possível citar a Sonata Patética. Outros compositores como Chopin, Tchaikovsky, Felix Mandelssohn, Liszt, Grieg e Brahms levaram ainda mais adiante o ideal romântico de Beethoven, deixando o rigor formal do Classicismo para escreverem músicas mais de acordo com suas emoções.
Relacionando o Romantismo a música escolhemos "Sozinho" de Caetano Veloso:
Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho
Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho os meus segredos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Porque você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela de repente me ganha?
Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

AULA 2




Arcadismo

"As brilhantes estrelas já caíam
E a vez terceira os galos já cantavam,
Quando, prezado amigo, punha o selo
Na volumosa carta, em que te conto
Do nosso imortal chefe a grande entrada;
E refletindo, então, ser quase dia,
A despir-me começo, com tal ânsia,
Que entendo que inda estava o lacre quente

Quando eu já, sobre os membros fatigados,
Cuidadoso, estendia a grosa manta"




Características

O Arcadismo é um movimento de reação ao exagero barroco, que havia alcançado um ponto de saturação. Racionalmente, influenciados pelas idéias iluministas francesas, os poetas buscam a retomada da simplicidade e resgatam alguns princípios da Antiguidade, por considerarem ser este o período de maior equilíbrio e pureza.

Há três princípios latinos básicos para a compreensão desse estilo de época:


Carpe diem (aproveita o dia): máxima proposta pelo poeta latino Horácio. Significa viver o presente, aproveitando-o ao extremo, visto que o tempo passa rapidamente.

Inutilia truncat (cortar o inútil): desejo de retirar dos textos tudo o que for excessivo, exagerado ou redundante.

Fugere urbem (fugir da cidade): princípios de valorização da natureza, vista como lugar de perfeição e pureza, em oposição à cidade, onde tudo é conflito.




Relacionando o Arcadismo a música encontramos:
"Chico Buarque - Benvinda"


Dono do abandono e da tristeza
Comunico oficialmente que há um lugar na minha mesa
Pode ser que você venha por mero favor, ou venha
coberta de amor
Seja lá como for, venha sorrindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o luar está chamando, que os jardins estão
florindo
Que eu estou sozinho
Cheio de anseio e de esperança, comunico a toda gente
Que há lugar na minha dança
Pode ser que você venha morar por aqui, ou venha pra
se despedir
Não faz mal pode vir até mentindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o meu pinho está chorando, que o meu samba está
pedindo
Que eu estou sozinho
Vem iluminar meu quarto escuro, vem entrando com o ar
puro
Todo novo da manhã
Oh vem a minha estrela madrugada, vem a minha
namorada
Vem amada, vem urgente, vem irmã
Benvinda, benvinda, benvinda
Que essa aurora está custando, que a cidade está
dormindo
Que eu estou sozinho
Certo de estar perto da alegria, comunico finalmente
Que há lugar na poesia
Pode ser que você tenha um carinho para dar, ou venha
pra se consolar
Mesmo assim pode entrar que é tempo ainda
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Ah, que bom que você veio, e você chegou tão linda
Eu não cantei em vão
Benvinda, benvinda, benvinda. benvinda, benvinda


Esses fatos como no Arcadismo faz uso da clareza e da simplicidade, equilibrio com a natureza, a valorização dos afetos principalmente a mulher como na musica e na imagem.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

AULA 1

  • O Barroco


    O Barroco é marcado pela sua forma conflituosa e exagerada, causando até mesmo certo mal-estar pelas oposições dos princípios renascentistas e a ética cristã. Também se caracteriza pelo desejo dos autores em causar assombro nos leitores.
    Dentro da sua audácia verbal, não há limites: como os paradóxos, as antíteses, as metáforas, e também o jogo verbal.
    Exemplos:

    Metáfora: Purpúreas rosas sobre Galatea
    A aurora entre lírios cândidos desfolha. (Góngora)
    (A luz rosada do amanhecer banha o corpo branco da jovem Galatea)

    Antítese: A aurora ontem me deu berço, a noite ataúde me deu. (Góngora)

    Paradoxo: Amor é fogo que arde sem se ver;
    é ferida que dói e não se sente;
    é um contentamento descontente;
    é dor que desatina sem doer. (Camões)

    Jogo verbal: O todo sem a parte não é todo;
    a parte sem o todo não é parte;
    mas se a parte o faz todo, sendo parte,
    não se diga que é parte sendo todo. (Gregório de Matos)


  • Buscando fazer uma relação com a música, escolhemos a canção "Viver, Amar, Valeu", escrita por Gonzaguinha, e cantada por Zizi Possi:

  • Quando a atitude de viver
    É uma extensão do coração
    É muito mais que um prazer
    É toda carga da emoção
    Que era o encontro com o sonho
    Que só pintava no horizonte
    E, de repente, diz presente
    Sorri e beija a nossa fronte
    E abraça e arrebenta a gente
    É bom dizer viver, valeu
    Ah! já não é nem mais alegria
    Já não é nem felicidade
    É tudo aquilo num sol riso
    É tudo aquilo que é preciso
    É tudo aquilo paraíso
    Não há palavra que explique
    É só dizer viver, valeu
    Ah! eu me ofereço esse momento
    Que não tem paga e nem tem preço
    Essa magia eu reconheço
    Aqui está a minha sorte
    Me descobrir tão fraco e forte
    Me descobrir tão sal e doce
    E o que era amargo acabou-se
    É bom dizer viver, valeu
    É bom dizer amar, valeu.
    Amar, valeu.

  • Esta canção, como as obras do período Barroco, apresenta: Metáfora: "É tudo aquilo num sol riso"; Paradóxo: "Me descobrir tão fraco e forte / Me descobrir tão sal e doce"; Jogo Verbal: "É bom dizer viver, valeu / É bom dizer amar, valeu. / Amar, valeu.

Ketaquiando um pouco mais...


É estar vivendo,

Em estar morrendo.

Viver é ir morrendo aos poucos. Esta percepção de que o sopro da vida já traz em si a própria finitude surge como fonte de grande angústia para a alma barroca. Cada minuto vivido é um minuto de aproximação do abismo sombrio. A idéia da morte torna-se onipresente porque não há como esquecê-la.